Tudo sobre a gravidez
Quarta-feira, 4 de Abril de 2007

1.ª Gravidez|Memórias

A minha primeira tentativa de engravidar foi um pouco caótica e não correu muito bem.

O melhor é começar pelo início e contar como tudo aconteceu, para que mais tarde não esqueça que consegui vencer a tristeza, que consegui encarar o futuro novamente com optimismo.

De acordo com consultas prévias com a minha ginecologista planeámos o calendário. Entretanto já tinha comprado o Folicil (para começar a tomar no final do mês de Janeiro) e já tinha efectuado todos os exames possíveis e imaginários para saber se tudo estava bem.

Já tinha luz verde da parte do médico, agora era só começar a tentar.

Nesta fase recordo que me invadiu um certo nervosismo e medo por estar a tentar engravidar, algo para o qual não me sentia muito preparada.

Aliás, nem tinha a certeza de que o queria fazer já, mas a idade não perdoa e, como não sabemos se vamos conseguir engravidar imediatamente, o melhor é começar a tentar o mais cedo possível.

Nesse mês de Janeiro após o período, deixei de tomar a pílula.

O médico fez algumas recomendações:

1) Deveria deixar de tomar a pílula, mas deveria utilizar outros métodos anticoncepcionais até Março, porque como o meu corpo ainda estava sob o efeito hormonal da pílula, não convinha engravidar já;

2) Deveria tomar o Folicil logo que deixasse de tomar a pílula;

3) Deveria tentar engravidar a partir de Março.

Depois de ter deixado de tomar a pílula preparei-me psicologicamente e convenci-me que engravidar levaria algum tempo. Assim, não criaria muitas expectativas e não ficaria logo desiludida se não conseguisse engravidar num prazo de seis meses.

Comecei a ler livros sobre concepção para desmistificar alguns mitos e comecei a escrever um pequeno diário onde escrevia o que sentia, o que pensava. As páginas desse diário foram destruídas mais tarde, num acto de profunda tristeza e desilusão.

Como acreditava piamente que não iria engravidar tão cedo, não utilizei nenhum método anticoncepcional  alternativo, não tomava o Folicil, andava completamente à vontade para não sentir aquele ânsia que por vezes impede que as pessoas engravidem.

Comecei a aprender a contar os dias para saber quando seria o meu período fértil, enfim vivia um período de aprendizagem.

Num mês de intenso trabalho, em que estava a trabalhar com recibo verde, em que não tinha hora para sair, com uma má alimentação (passava horas sem comer, almoçava na secretária e às vezes jantava às 22:00h), sem fazer exercício físico, o meu corpo não estava nas melhores condições para engravidar. O facto é que engravidei no final do mês de Janeiro.

Fiz o teste que deu positivo. Aliás, não precisava de ter feito o teste para saber que estava grávida. Comecei logo a sentir uns sintomas estranhos, que nunca tinha sentido antes. Comecei a sentir o peito mais volumoso e um ténue sabor a metal na boca.

Como não há milagres e o peito não cresce assim do nada ( eu bem queria!), fui investigar a que se deveriam tais sintomas. Claro que suspeitei imediatamente que estaria grávida e todas as informações apontavam para esse facto.

Depois de ter ido comprar o teste, deparei-me com várias opções. Eu só queria um teste de gravidez e qual não foi o meu espanto, quando me apresentaram vários!

Aconselhada pelo farmacêutico comprei um que poderi ser utilizado a qualquer hora do dia.

Fi-lo imediatamente quando cheguei a casa, esperei (o N. estava em pulgas) e o risquinho cor-de-rosa apareceu nítido.

Fiquei sem reacção e sem saber o que dizer. Após esse momento inicial, comecei a sentir-me feliz, porque um rebento estava a crescer dentro de mim, um rebento que chamaria de mãe e ao N. de pai. Achei este pensamento delicioso!

Agora o mais importante era conseguir uma consulta com o médico, para saber se tudo estava a correr bem.

O meu médico só me poderia atender passados uns meses e optei por mudar de médico.

Fiz a primeira consulta de grávida e achei imensa graça estar grávida e só eu e o N. sabermos desse pequeno grande segredo. Olhava para as outras grávidas na sala de espera e sentia-me ansiosa por também ter assim um barrigão.

Primeiro fui atendida por uma enfermeira que me pesou e me aconselhou sobre a melhor alimentação a seguir. O plano da dieta era tão ou mais exigente que as dietas das pessoas que querem efectivamente emagrecer. Fiquei chocada! E logo eu que pensava que podia comer tudo o que eu queria!...

A enfermeira deve ter vislumbrado estes pensamentos no meu semblante, porque disse imediatamente que 'no meu caso não era preciso exagerar porque eu não era obesa e que ia autorizar-me a comer iourtes normais e a beber leite meio gordo'.

Pois, nunca pensei que uma grávida tinha de comer iogurtes magros e beber leite magro!!!

Adeus gulodices! Adeus presunto! Adeus croquetes!

A enfermeira deu-me um Boletim de Grávida onde registou algumas informações minhas, como o tipo de sangue, etc.

Depois desta consulta prévia sobre alimentação, tive a verdadeira consulta com o médico que me mandou fazer ainda mais exames.

Às tantas, já andava com uma pastinha cheia de papelada - resultados de exames, de ecografias, enfim...

A primeira ecografia foi marcada e, isto sim, era algo por que ansiava muito. Pela primeira vez iria ver o meu rebento na televisão!

Como é óbvio o N. quis estar presente. Foi emocionante ver que, apesar de ainda ser um embrião, aquela pequenina mancha seria um bébé, e mais importante ainda, seria o nosso filho!

Porém, nesse dia já algo de trágico se adivinhava no ar. O Dr. que estava a efectuar a ecografia afirmou que deveria repeti-la dali a uma semana ou duas, porque era difícil ver se o embrião se estava a desenvolver, visto que para o tempo que tinha era demasiado pequeno. Para além disso, tinha um quisto no ovário. Segundo o Dr. J. era um quisto funcional, benigno que desapareceria naturalmente. No entanto, convinha estar atenta e vigilante.

Este não era um bom augúrio e fiquei um pouco preocupada, mas com a felicidade, convenci-me que não seria nada de grave.

Andava radiante e ansiosa por poder partilhar com os amigos e a família a boa nova.

Toda a gente fazia a pergunta incontornável 'para quando um sobrinho?', brincando com uma situção que já era real e secreta.

Mas por minha insistência não quis contar a ninguém sobre o meu novo estado.

Na segunda ecografia, recebi a notícia trágica que dexou à beira de um ataque, não de nervos, mas de lágrimas: o embrião tinha parado de se desenvolver.

Apesar de estar apenas com 8 semanas e todos dizerem que é normal estas coisas acontecerem, não me conseguiram animar.

Após a consulta médica saí sentindo-me numa outra dimensão...

Teria que fazer um aborto. Palavra cruel, mas que caiu na minha realidade sem o esperar.

O aborto provocado para expulsão do embrião designa-se medicamente 'aborto espontâneo' e, para isso, existem uns comprimidos que o provocam. Na posse da receita médica foi difícil dirigir-me à farmácia e adquiri-los. Teria que ficar em casa durante aproximadamente três dias a aguardar pelo efeito do medicamento. Pensei que poderia ir trabalhar, ocupando a minha mente com outras questões, mas a probabilidade de fortes dores abdominais e a grande quantidade de sangue que iria sair impossibilitava-me de sair de casa.

Fiquei em casa, com o telemóvel perto de mim para alguma emergência. O N. estava constantemente a telefonar para saber como me sentia.

No final do dia, visto que nada estava a acontecer telefonei ao médico que me indicou a toma de mais comprimidos.

No dia seguinte, pela manhã, algo começou a acontecer.

Neste momento, só queria que tudo abasse o mais depressa possível para retomar o meu dia-a-dia com normalidade e esquecer que tudo isto tinha acontecido.

Telefonei imediatamente ao Dr. J. que pediu que fosse ao seu consultório para ser examinada.

O meu útero teria que estar limpo e na ecografia rapidamente se verificou que isso não acontecia e que teria de ser submetida a uma curetagem uterina, ou seja, a raspagem do endométrio para retirar todos os vestígios dessa gravidez.

Fui imediatamente internada no hospital e quando o N. chegou estava num quarto já a tomar soro.

Fui preparada pelas enfermeiras como se de uma operação se tratasse e fui para o bloco operatório.

No bloco operatório fui anestesiada e adormeci imediatamente.

Quando acordei estava no Recobro, rodeada de mulheres que já tinham dado à luz e que estavam com os seus bébés nos braços.

Chamaram o N. que veio ver-me. Ainda estava um pouco tonta com a anestesia.

Às 18h do mesmo dia tive alta do hospital.

Daí para cá a recuperação quer física, quer emocional tem decorrido bem.

O Dr. J. informou que passados dois meses já poderia começar a tentar novamente.

Este desabafo é a minha catarse.

publicado por xana às 20:00
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De Elsa Faria a 6 de Junho de 2008 às 11:17
"Ter coragem não é algo que requeira qualificações excepcionais, fórmulas mágicas ou combinações especiais de hora, lugar e circunstância. É uma oportunidade que, mais cedo ou mais tarde, é apresentada para cada um de nós."
( John F . Kennedy )
Passou-se exactamente o mesmo comigo e compreendo, sinto e revejo-me no que é testemunhado... Foi a minha primeira gravidez e era o sonha de uma família inteira que desmoronou... Mas adoptei a filosofia de que "o que não nos mata torna-nos mais fortes". E assim é... agora estou a um mês mais coisa menos coisa de começar a tentar novamente e a ânsia e o receio apoderam-se de mim e do meu marido (um homem com um H do tamanho do mundo, que me apoiou em tudo e sofreu e chorou junto comigo). Desejo toda a felicidade do mundo como se para mim se tratasse... E o tempo não cura tudo, apenas alivia... Mas a coragem é determinante...
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O renovado Babyblues

Após vários meses de inactividade o Babyblues foi reestruturado. Sei que muitas pessoas gostam do blog e não quis desistir dele, no entanto como faço o blog num regime de voluntariado, houve um período de tempo de pouca disponibilidade para o actualizar. Agora renasceu aqui: http://baby-blues.blogs.sapo.pt/

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