A minha primeira tentativa de engravidar foi um pouco caótica e não correu muito bem.
O melhor é começar pelo início e contar como tudo aconteceu, para que mais tarde não esqueça que consegui vencer a tristeza, que consegui encarar o futuro novamente com optimismo.
De acordo com consultas prévias com a minha ginecologista planeámos o calendário. Entretanto já tinha comprado o Folicil (para começar a tomar no final do mês de Janeiro) e já tinha efectuado todos os exames possíveis e imaginários para saber se tudo estava bem.
Já tinha luz verde da parte do médico, agora era só começar a tentar.
Nesta fase recordo que me invadiu um certo nervosismo e medo por estar a tentar engravidar, algo para o qual não me sentia muito preparada.
Aliás, nem tinha a certeza de que o queria fazer já, mas a idade não perdoa e, como não sabemos se vamos conseguir engravidar imediatamente, o melhor é começar a tentar o mais cedo possível.
Nesse mês de Janeiro após o período, deixei de tomar a pílula.
O médico fez algumas recomendações:
1) Deveria deixar de tomar a pílula, mas deveria utilizar outros métodos anticoncepcionais até Março, porque como o meu corpo ainda estava sob o efeito hormonal da pílula, não convinha engravidar já;
2) Deveria tomar o Folicil logo que deixasse de tomar a pílula;
3) Deveria tentar engravidar a partir de Março.
Depois de ter deixado de tomar a pílula preparei-me psicologicamente e convenci-me que engravidar levaria algum tempo. Assim, não criaria muitas expectativas e não ficaria logo desiludida se não conseguisse engravidar num prazo de seis meses.
Comecei a ler livros sobre concepção para desmistificar alguns mitos e comecei a escrever um pequeno diário onde escrevia o que sentia, o que pensava. As páginas desse diário foram destruídas mais tarde, num acto de profunda tristeza e desilusão.
Como acreditava piamente que não iria engravidar tão cedo, não utilizei nenhum método anticoncepcional alternativo, não tomava o Folicil, andava completamente à vontade para não sentir aquele ânsia que por vezes impede que as pessoas engravidem.
Comecei a aprender a contar os dias para saber quando seria o meu período fértil, enfim vivia um período de aprendizagem.
Num mês de intenso trabalho, em que estava a trabalhar com recibo verde, em que não tinha hora para sair, com uma má alimentação (passava horas sem comer, almoçava na secretária e às vezes jantava às 22:00h), sem fazer exercício físico, o meu corpo não estava nas melhores condições para engravidar. O facto é que engravidei no final do mês de Janeiro.
Fiz o teste que deu positivo. Aliás, não precisava de ter feito o teste para saber que estava grávida. Comecei logo a sentir uns sintomas estranhos, que nunca tinha sentido antes. Comecei a sentir o peito mais volumoso e um ténue sabor a metal na boca.
Como não há milagres e o peito não cresce assim do nada ( eu bem queria!), fui investigar a que se deveriam tais sintomas. Claro que suspeitei imediatamente que estaria grávida e todas as informações apontavam para esse facto.
Depois de ter ido comprar o teste, deparei-me com várias opções. Eu só queria um teste de gravidez e qual não foi o meu espanto, quando me apresentaram vários!
Aconselhada pelo farmacêutico comprei um que poderi ser utilizado a qualquer hora do dia.
Fi-lo imediatamente quando cheguei a casa, esperei (o N. estava em pulgas) e o risquinho cor-de-rosa apareceu nítido.
Fiquei sem reacção e sem saber o que dizer. Após esse momento inicial, comecei a sentir-me feliz, porque um rebento estava a crescer dentro de mim, um rebento que chamaria de mãe e ao N. de pai. Achei este pensamento delicioso!
Agora o mais importante era conseguir uma consulta com o médico, para saber se tudo estava a correr bem.
O meu médico só me poderia atender passados uns meses e optei por mudar de médico.
Fiz a primeira consulta de grávida e achei imensa graça estar grávida e só eu e o N. sabermos desse pequeno grande segredo. Olhava para as outras grávidas na sala de espera e sentia-me ansiosa por também ter assim um barrigão.
Primeiro fui atendida por uma enfermeira que me pesou e me aconselhou sobre a melhor alimentação a seguir. O plano da dieta era tão ou mais exigente que as dietas das pessoas que querem efectivamente emagrecer. Fiquei chocada! E logo eu que pensava que podia comer tudo o que eu queria!...
A enfermeira deve ter vislumbrado estes pensamentos no meu semblante, porque disse imediatamente que 'no meu caso não era preciso exagerar porque eu não era obesa e que ia autorizar-me a comer iourtes normais e a beber leite meio gordo'.
Pois, nunca pensei que uma grávida tinha de comer iogurtes magros e beber leite magro!!!
Adeus gulodices! Adeus presunto! Adeus croquetes!
A enfermeira deu-me um Boletim de Grávida onde registou algumas informações minhas, como o tipo de sangue, etc.
Depois desta consulta prévia sobre alimentação, tive a verdadeira consulta com o médico que me mandou fazer ainda mais exames.
Às tantas, já andava com uma pastinha cheia de papelada - resultados de exames, de ecografias, enfim...
A primeira ecografia foi marcada e, isto sim, era algo por que ansiava muito. Pela primeira vez iria ver o meu rebento na televisão!
Como é óbvio o N. quis estar presente. Foi emocionante ver que, apesar de ainda ser um embrião, aquela pequenina mancha seria um bébé, e mais importante ainda, seria o nosso filho!
Porém, nesse dia já algo de trágico se adivinhava no ar. O Dr. que estava a efectuar a ecografia afirmou que deveria repeti-la dali a uma semana ou duas, porque era difícil ver se o embrião se estava a desenvolver, visto que para o tempo que tinha era demasiado pequeno. Para além disso, tinha um quisto no ovário. Segundo o Dr. J. era um quisto funcional, benigno que desapareceria naturalmente. No entanto, convinha estar atenta e vigilante.
Este não era um bom augúrio e fiquei um pouco preocupada, mas com a felicidade, convenci-me que não seria nada de grave.
Andava radiante e ansiosa por poder partilhar com os amigos e a família a boa nova.
Toda a gente fazia a pergunta incontornável 'para quando um sobrinho?', brincando com uma situção que já era real e secreta.
Mas por minha insistência não quis contar a ninguém sobre o meu novo estado.
Na segunda ecografia, recebi a notícia trágica que dexou à beira de um ataque, não de nervos, mas de lágrimas: o embrião tinha parado de se desenvolver.
Apesar de estar apenas com 8 semanas e todos dizerem que é normal estas coisas acontecerem, não me conseguiram animar.
Após a consulta médica saí sentindo-me numa outra dimensão...
Teria que fazer um aborto. Palavra cruel, mas que caiu na minha realidade sem o esperar.
O aborto provocado para expulsão do embrião designa-se medicamente 'aborto espontâneo' e, para isso, existem uns comprimidos que o provocam. Na posse da receita médica foi difícil dirigir-me à farmácia e adquiri-los. Teria que ficar em casa durante aproximadamente três dias a aguardar pelo efeito do medicamento. Pensei que poderia ir trabalhar, ocupando a minha mente com outras questões, mas a probabilidade de fortes dores abdominais e a grande quantidade de sangue que iria sair impossibilitava-me de sair de casa.
Fiquei em casa, com o telemóvel perto de mim para alguma emergência. O N. estava constantemente a telefonar para saber como me sentia.
No final do dia, visto que nada estava a acontecer telefonei ao médico que me indicou a toma de mais comprimidos.
No dia seguinte, pela manhã, algo começou a acontecer.
Neste momento, só queria que tudo abasse o mais depressa possível para retomar o meu dia-a-dia com normalidade e esquecer que tudo isto tinha acontecido.
Telefonei imediatamente ao Dr. J. que pediu que fosse ao seu consultório para ser examinada.
O meu útero teria que estar limpo e na ecografia rapidamente se verificou que isso não acontecia e que teria de ser submetida a uma curetagem uterina, ou seja, a raspagem do endométrio para retirar todos os vestígios dessa gravidez.
Fui imediatamente internada no hospital e quando o N. chegou estava num quarto já a tomar soro.
Fui preparada pelas enfermeiras como se de uma operação se tratasse e fui para o bloco operatório.
No bloco operatório fui anestesiada e adormeci imediatamente.
Quando acordei estava no Recobro, rodeada de mulheres que já tinham dado à luz e que estavam com os seus bébés nos braços.
Chamaram o N. que veio ver-me. Ainda estava um pouco tonta com a anestesia.
Às 18h do mesmo dia tive alta do hospital.
Daí para cá a recuperação quer física, quer emocional tem decorrido bem.
O Dr. J. informou que passados dois meses já poderia começar a tentar novamente.
Este desabafo é a minha catarse.
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